A ideia de desenvolvimento sustentável, trouxe nos últimos anos, uma grande preocupação para a sociedade moderna. Este problema pode ser resumido no dilema de como consumir de forma ecológica o potencial enérgico de elementos do planeta, sem comprometer a sobrevivência de gerações futuras. Isso de justifica pelo fato de que os combustíveis fósseis, a base de petróleo, são extremamente poluentes, sendo imprescindível o estudo e uso de energias alternativas e renováveis.
A conhecida tecnologia de liquefação do gás foi criada ainda na primeira metade do século XX, com o objetivo de extrair hélio do ar. Em 1940, nos Estados Unidos, esse sistema foi adaptado para o armazenamento de grandes quantidades de gás natural GNL (Gás Natural Liquefeito) em espaços pequenos. Ao passar dos anos, unidades de GNL já eram transportadas por navios entre os EUA, Europa e até Japão.
O popular GNV (Gás Natural Veicular) reconhecido como um combustível limpo, tem sua utilização autorizada pelo decreto n° 1.787, de 12 de janeiro de 1996 para todos os tipos de veículos urbanos e interurbanos. Encontrado em rochas ou em arenitos no subsolo, normalmente vinculado ao petróleo, é formado por uma mistura de hidrocarbonetos leves que em pressão atmosférica e temperatura ambiente permanecem em estado gasoso. É constituído basicamente por metano (CH4) com teor mínimo de 87%, segundo dados da Petrobras.
Combustão limpa
A combustão do GNV é considerada uma das mais limpas de todos os combustíveis, já que quase não emite monóxido de carbono, um dos vilões do aquecimento global. Isso acontece por que não possui enxofre em sua mistura, e por isso, o gás natural veicular não lança na atmosfera nenhum composto que pode vir a causar chuvas ácidas, proporcionando a melhoria da qualidade do meio ambiente e de vida da população. Ainda, segundo estudos, a utilização desse combustível reduz em 65% a emissão de gases poluentes e pode ser até 60% mais econômico que os principais combustíveis utilizados atualmente, álcool e gasolina.
Segundo pesquisa da Comgás (2017), o custo médio do quilômetro rodado em São Paulo com GNV é de R$ 0,17 enquanto nos veículo movidos à gasolina é de R$ 0,36 e álcool R$ 0,39. Desta forma percebe-se que com R$ 50,00 o motorista percorre até 294 Km com GNV, 138 Km com gasolina e 128 Km com álcool.
Existem algumas desvantagens no uso do gás como combustível. Além da burocracia para a instalação, a adaptação de veículos para receber o GNV pode acarretar na perda de potência, de 5% a 10% dependendo do equipamento (mais barato). Porém com os avanços tecnológicos do setor, a perda de potência fica apenas 3% menor no equipamento de 5º geração lançado em 2010 (mais caro).
Kits GNV de 3º e 5º geração
Agora, faremos um comparativo, destacando os kits de 3° e 5° geração, que são os mais usados atualmente pelos adeptos desse tipo de combustível.
Entenda as principais diferenças entre os dois.
Kit 3º geração
A principal característica da 3º geração está na regulagem manual do volume de gás na mangueira. Nele a mistura é feita de forma eletrônica por um módulo de controle, e sua execução depende de dois atuadores eletromecânicos. A regulagem da marcha lenta é feita por um redutor de 3 estágios, e a inversão GNV x Combustível é feita por uma chave comutadora. Este sistema, também adota um emulador de bicos injetores.
O Kit de 3º geração tem um menor custo de instalação e apresenta maiores benefícios em uma reinstalação, porém necessita de maior manutenção e tem uma perda de potência maior que o kit de 5º geração.
Equipamentos: redutor de pressão de 3 estágios, regulagem manual, chave comutadora para troca GNV x Combustível, emulador de bicos injetores. Recomenda-se adotar um simulador de sonda lambada (adequado para o tipo de veículo) e variador de avanço de sensor de rotação, bobina ou sensor MAP.
Kit 5º geração
Seu principal diferencial está na utilização de um redutor de 2 etapas, ou redutor de pressão positiva, gerenciado(s) por uma central de injeção que envia o GNV com pressão positiva pelos bicos injetores, que geralmente perfuram o coletor de admissão na entrada de cada cilindro.
A central da 5º geração adota as funções de chave comutadora, emulador de bicos e simulador de sonda. Assim, quando o GNV acaba, a central automaticamente adota o combustível líquido.
O kit de 5º geração é o mais recomendado, sendo sugerido para veículos com injeção eletrônica mais recentes, com manutenção frágil ou que possuem problemas recorrentes.
Equipamentos
Central de injeção GNV com bicos injetores para o gás, redutor de pressão de 2 estágios com saída para pressão positiva, chave comutadora (integrada a central), variador de avanço (colocado a parte).
Conversão para GNV
Agora falaremos sobre os procedimentos de conversão para GNV e de veículos com o kit instalado de fábrica. No caso da conversão, os veículos projetados originalmente com gasolina ou álcool recebem o kit GNV, que os torna bicombustível, podendo rodar com gás ou combustível original.
Desse modo, com o kit instalado, haverá a necessidade de usar uma chave seletora instalada no painel para a escolha do combustível a ser utilizado. Já para veículos flex, o proprietário deverá escolher qual combustível irá rodar juntamente com o GNV, álcool ou gasolina, já que até os kits mais modernos ainda não conseguem controlar três combustíveis ao mesmo tempo.
Para a instalação em veículos que não saem de fábrica com o Kit, deve-se proceder da seguinte forma:
- Solicitar no Detran de origem do veículo a autorização para alteração com os seguintes documentos: RG e CPF, CNH, CRV (Certificado de Registro do Veículo), comprovante de residência e recibo de compra e venda do veículo;
- Fazer uma pré-vistoria no próprio Detran para dar início na pré-autorização e pagar a taxa inicial (cada estado tem um valor);
- Procurar oficinas credenciadas pelo Inmetro para fazer a instalação. Somente as oficinas credenciadas podem oferecer o certificado de homologação de montagem do kit (atestado de qualidade);
- Após a conversão o proprietário deverá levar o veículo para inspeção em um organismo credenciado pelo Inmetro, com autorização do Detran, com as notas fiscais de equipamento e mão de obra, juntamente do Atestado de Qualidade do Instalador, para obter o CSV (Certificado de Segurança Veicular). O órgão de inspeção irá avaliar diversos documentos além de itens de segurança, equipamentos e o nível de emissões atmosféricas. Em seguida, será liberado um selo, onde consta a próxima vistoria e que deve permanecer SEMPRE dentro do veículo;
- Com o CSV e as notas fiscais em mãos, o proprietário deverá se apresentar no DETRAN para finalizar o registro de alteração do combustível.
Veículos com o kit GNV de fábrica
Alguns veículos já saem de fábrica com opção para GNV, como é o caso do Siena Tetrafuel da FIAT, que opera com gasolina pura, gasolina misturada com álcool (Brasileira), Álcool e GNV.
Nesse caso, a central de injeção eletrônica é responsável pelo gerenciamento do sistema de alimentação a gás de forma inteligente, sem a necessidade de chaves comutadoras. Os bicos injetores são separados para gasolina/álcool e para o GNV.
A localização dos injetores do GNV está no tubo coletor de gás, que por sua vez, fica no coletor de admissão do veículo. O gás é misturado com o ar aspirado naturalmente pelo movimento dos pistões e entra no cilindro para a combustão. A Fiat nomeia esse conjunto de sistema de injeção multi-point.
Para que seja possível controlar eventuais vazamentos de gás, existe um procedimento simples adotado pela montadora. É utilizado um líquido detector de vazamentos chamado “Chem-air” nas conexões dos tubos rígidos. Para acessar os tubos, se deve desmontar as abraçadeiras do tubo plástico.