Saber como fazer um diagnóstico eletrônico automotivo com propriedade é fundamental para ganhar tempo e não perder clientes. Mesmo que você já tenha cursos de eletroeletrônica, precisa se atualizar constantemente para atender o que há de mais recente no mercado.
Pensando nisso, o Simplo promoveu um curso gratuito de diagnóstico eletrônico automotivo, com nosso mestre Laerte Rabelo e o convidado Doutor Carro. Veja em detalhes, o conteúdo apresentado ao vivo.
Os comandantes do estudo sobre sistemas eletroeletrônicos automotivos
Talvez você já conheça os profissionais que vão ministrar esse treinamento para eletricista veicular. Para quem não conhece, saiba mais sobre a trajetória de cada um deles.
Quem é Laerte Rabelo
Laerte Rabello é técnico automotivo pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará. Durante 10 anos, lecionou como Professor Técnico Automotivo no SENAI-CE, sendo responsável pelas parcerias General Motors, Raven Ferramentas e Baterias Heliar. Atualmente, é consultor técnico do Simplo e do Jornal Oficina Brasil. Também é sócio-proprietário da L. Rabelo Manutenção Automotiva.
Quem é o Doutor Carro
Tales Domingues, o Dr. Carro, é o nosso convidado para o treinamento de diagnóstico eletrônico automotivo. Conforme nos conta Tales, ele começou ainda cedo na reparação elétrica automotiva.
“Eu ia de Mongaguá até Santos pagar carnê para o meu pai. Andava por uma hora e meia de ônibus sem camiseta com uma bermuda toda comida de aço de bateria.
Eu carrego bateria nas costas desde que eu me conheço por gente, cabo de chupeta enrolado no pescoço e bateria apoiada no punho, dois quilômetros para ir e dois quilômetros para voltar.”
Doutor Carro especializou-se em eletrônica automotiva durante toda sua carreira. Há alguns anos, começou a divulgar vídeos no YouTube para informar tanto o reparador, quanto o consumidor. Hoje ele já ultrapassa a marca de 1 milhão de inscritos. Assista sua apresentação!
Diagnóstico eletrônico automotivo
Com a evolução do sistema eletroeletrônico dos veículos, principalmente a partir de 1989, muitos reparadores não conseguiram acompanhar. Hoje, a eletrônica embarcada é o grande desafio para os reparadores que querem se manter no mercado.
Dr. Carro afirma que costuma estudar, pelo menos, meia hora por dia. Ele conta que pegou carros desde o carburador, mas conseguiu se atualizar para atender os modernos sistemas com protocolos de comunicação.
Do mesmo modo, salienta que um multímetro, por exemplo, não é capaz de fazer todos os diagnósticos do sistema eletrônico automotivo. Para ver um sinal no sensor de bateria, por exemplo, dever ser usada uma rede LIN.
Por isso, é importante buscar constantemente o conhecimento.
Resistência elétrica em união de cabos por eletrofusão (caso da sonda lambda)
Um dos erros mais comuns, cometidos com o multímetro, ocorre ao medir a resistência. Essa falha é facilmente cometida em reparos da sonda lambda.
Dr. Carro conta que fez um reparo em que trocou as duas sondas e o problema permaneceu. Então, abriu o chicote e havia uma emenda com eletrofusão.
Vamos observar a imagem retirada do Manual Injeção Eletrônica do Simplo. Temos a sonda antes do catalizador e a sonda após o catalizador e, entre as duas, há um ponto que está ligado pelo fio violeta/azul.
Esse ponto simboliza a emenda dos fios, onde o Dr. Carro diagnosticou o problema elétrico do carro.
A importância da literatura técnica
Apesar do vasto conhecimento em diagnóstico eletrônico automotivo, Dr. Carro revela que não se detém a tentar decorar todas as informações.
“Hoje com a literatura técnica damos um salto no tempo, […] Por que decorar tudo sendo que você vai esquecer algo? E é justamente onde você acha que decorou que vai tomar uma surra de três dias, porque vai estar enganado.
– Vou apertar uma roda e eu acho que é doze quilos de aperto!
E se é oito e você se confundiu? Então a literatura técnica tem que estar à mão, mesmo que você saiba de cabeça.”
Devido à complexidade dos sistemas eletrônicos automotivos, a única maneira de enxergar como funciona todo o sistema, sem desmontar o carro, é por meio dos manuais técnicos. A partir da informação do manual, é possível comparar os sinais obtidos pelas ferramentas de diagnóstico e interpretar o que está acontecendo.
Resistência nos fios de alimentação da bomba de combustível (conectores que esquentam)
Toda a resistência que a bomba tem pode induzir o reparador a um erro.
Supondo que o carro tenha uma perda de potência ou um mal desempenho intermitente, por exemplo. Quando o cliente chega na oficina, ainda com o carro quente, colocamos o manômetro e a pressão da bomba está em 3,5 ou 4 bar, dependo do carro. Então, presume-se que a pressão está boa, e normalmente o reparador tira o manômetro.
O problema é que um carro comum vai ter cinco ou seis amperes. Porém, depois que a pressão da bomba começa a esquentar, a temperatura sobe para sete. Então, soma-se os sete amperes com o conector, que também começa a esquentar, e a temperatura sobe mais ainda.
Quando o carro começa a esfriar, a pressão da bomba começa a cair, e o que estava em 3,5 cai para uns 1,8bar. O erro do diagnóstico eletrônico, nesse caso, não ocorre quando o conector da bomba esquenta. O problema está em uma união no chicote.
O que deveria ser feito, portanto, é a troca do chicote. Mas, erroneamente, muitos reparadores não fazem.
Isso costuma acontecer com frequência na Montana. No diagnóstico, essa perda de potência é informada no scanner como código de erro na sonda lambda. Caso andasse com o manômetro preso no carro, seria percebido que a temperatura cai.
Se não andar com o manômetro, a percepção vai ser que a sonda trava em mistura pobre. Isso acontece porque o conector esquenta, a tensão cai e a bomba gira mais devagar.
Resistência no negativo da unidade de comando
A central de aterramento presente na traseira do veículo, além de alimentar as lâmpadas, também alimenta a bomba de combustível. Quando está com defeito, pode fazer com que o carro apague em algumas situações, como ao dar ré no veículo.
Isso porque, no momento de dar ré, a lâmpada é acionada. Só que essa luz de ré é muito forte. Então, a mesma central deve dar conta da luz e da bomba de combustível. Com isso, a energia cai e o motor apaga.
Mais uma vez, erroneamente, é trocada a bomba de combustível, quando na verdade o problema está na central de aterramento.
Um problema parecido que pode enfraquecer o motor, ocorre ao ligar os faróis. Normalmente, a suspeita recai sobre o alternador. Se formos observar o negativo do farol, ele pode ser ligado no mesmo lugar que a unidade de comando. Nesse ponto, ele pode não estar bem apertado, com mal contato ou ter alguma oxidação. É necessário fazer a limpeza e apertar conforme a necessidade específica.
Veja esse e mais alguns exemplos, trazidos no nosso curso de eletrônica automotiva grátis.
Para saber onde encontrar cada central de aterramento e quais componentes ela alimenta, acesse o Manual Electra.
Resistência por desgaste de fios devido à perfuração ou má vedação de conectores
Muitas vezes, o defeito em um sensor de rotação com resistência por oxidação se dá pela falta de vedação, o que permite a entrada de água no fio. Uma das possíveis causas desse problema, é a perfuração da capa protetora do fio.
Antigamente, encontrávamos multímetros com perfuradores de fio. Caso o veículo tenha sido inspecionado com um desses equipamentos, este defeito pode ser ocasionado.
Dr. Carro nos conta uma situação dessas com um Corsa. Veja a resolução.
Erros de montagem de conectores devido à dobra de terminais
Com o balançar do chicote, o fio pode quebrar sem romper a capa. Assim, não é possível enxergar o defeito e a suspeita cai sobre o módulo. Então, o veículo é enviado ao reparador do módulo. O defeito, porém, não está lá, afinal o diagnóstico não foi feito correto.
Segundo Rabelo, boa parte dos defeitos que aparentemente são no módulo, na verdade não são. Há possibilidade ser um curto no chicote ou problema no aterramento, por exemplo.
Uma das estratégias de diagnóstico que o eletricista veicular usava e que está esquecida, é colocar um multímetro em cada lado do terminal. Depois, chacoalhar e esticar o fio.
Esse movimento simulava a trepidação do fio durante a movimentação do carro, principalmente em situações mais irregulares como buracos ou estrada de chão. Caso houvesse algum mal contato que leve o carro a falhar em situações irregulares o multímetro detectaria nesse teste.
Outra coisa que pode ser feita, é retirar o chicote e colocar uma lâmpada de farol na outra ponta. Feito isso, alimente a lâmpada. Se não acender, o defeito está no chicote.
Acessórios instalados na linha 30 da unidade de comando do motor
Dr. Carro conta que já recebeu ligações de eletricistas alegando que o carro havia dado um problema elétrico incomum, do nada. Ao indagar o reparador sobre o clima dos últimos dias, ficou sabendo que houve chuva e raios.
E estava ali a causa do problema. O raio pode queimar a unidade de comando do carro. A descarga elétrica apaga a memória, que é magnética.
O fato é que quando nos deparamos com problemas na unidade de comando, a primeira coisa que devemos saber é se o carro teve algum reparo na elétrica ou passou por alguma situação de proximidade com descargas elétricas.
Esse defeito aparece com frequência, em decorrência da instalação de algum acessório, como alarme ou rádio. O reparador pode conectar o acessório no fio da Rede CAN pensando que é o positivo. Até mesmo uma vela errada pode desprogramar a unidade de comando.
Rabelo aconselha o reparador a fazer diversas perguntas investigativas e abertas ao cliente. Assim, conseguimos informações sobre as possíveis causas da falha.
Doutor Carro revela que se inspirou na série Dr. House para fazer bons diagnósticos. Os clientes costumam mentir ou omitir sobre o que de fato acontece. Por isso, o diagnóstico elétrico automotivo precisa ser investigativo.
Graves interferências no sistema eletrônico automotivo provocadas por acessórios
Entre os componentes dos sistemas eletroeletrônicos automotivos que mais sofrem com acessórios, estão a bateria e o alternador. Vamos ver três exemplos citados pelo Dr. Carro.
Quando o cliente chega com o alternador superaquecendo, a primeira coisa que podemos observar são os acessórios. Pode ser que o carro tenha duas baterias, ou até mesmo uma bataria em curto.
Um alarme instalado em uma van, por exemplo, consome muita corrente. Isso pode acabar gastando toda a bateria do alarme. Então, o alarme só vai consumir a bateria do carro após drenar toda sua bateria.
Quando a van chegar na reparadora, não vai aparentar nada até que o alarme comece a sugar a bateria da van. Nesse caso, o que vai determinar se a van vai ligar ou não no outro dia, é o tempo que ela ficou parada.
Estudo de caso: Kombi 1.4 a partir de 2005 sistema IAW 4BV
O reparador Edvaldo, da Direct Autos, recebeu uma Kombi que tinha perda de aceleração intermitente, principalmente quando trafegava em terrenos irregulares. O cliente já havia consultado outros mecânicos de sistemas eletrônicos automotivos, que não haviam conseguido resolver o problema.
Veja como foi o passo a passo desse diagnóstico eletrônico automotivo:
Lições finais de diagnóstico eletrônico automotivo por Doutor carro e Laerte Rabelo
Nossos instrutores reforçaram a todo momento, a importância de fazer uma entrevista com o cliente para saber tudo o que o carro tem. Muitas vezes, ficamos presos aos diagnósticos pela informação das ferramentas e esquecemos de usar os nossos cinco sentidos e conhecimentos.
O que é óbvio para um reparador automotivo, para o cliente não é. Então, explique a situação, ciente de que não está falando com um colega reparador. Use palavras simples, para que ele possa entender com clareza.
Devemos adquirir conhecimento, estudar com frequência e não se preocupar em decorar o assunto. Precisamos de um acervo de informações e você pode construir o seu próprio. É justamente onde acreditamos ter certeza, que os erros podem acontecer por excesso de confiança.
E para você, qual foi a principal lição dessa aula? Deixe o seu comentário!