A rede CAN é, sem exagero, o sistema nervoso do carro moderno. Ela é responsável por interligar praticamente todos os módulos do veículo, permitindo que informações circulem de forma rápida, confiável e organizada.
Entender como ela funciona — e principalmente como diagnosticá-la corretamente — é o que separa um diagnóstico técnico de uma troca de peças no escuro.
A rede CAN é o sistema nervoso do carro moderno
A rede CAN conecta módulos como motor, ABS, painel, carroceria, transmissão e airbag em um único barramento de comunicação. Quando essa comunicação falha, os sintomas não ficam restritos a um sistema apenas.
O resultado é conhecido por todo reparador:
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Várias luzes acesas no painel
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Múltiplos códigos de falha
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Sistemas aparentemente sem relação falhando ao mesmo tempo
Sem método, o diagnóstico vira confusão.
Antes da rede CAN
Antes da rede CAN, cada módulo precisava de seus próprios sensores para “enxergar” o funcionamento do veículo. Isso gerava:
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Mais sensores
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Mais fios
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Chicotes mais pesados
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Maior índice de falhas
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Diagnóstico mais difícil
O chicote elétrico se tornava um verdadeiro labirinto.
Com a rede CAN
Com a chegada da rede CAN, a lógica mudou completamente.
Agora:
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Um único módulo recebe a informação do sensor
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Essa informação é compartilhada com todos os outros módulos da rede
Isso reduziu drasticamente a quantidade de componentes, viabilizou novas funções eletrônicas e transformou a arquitetura elétrica dos veículos modernos.
Mas trouxe um novo desafio.
O problema é que a falha não aparece “limpa”
Quando a comunicação CAN cai, vários módulos reclamam ao mesmo tempo. Surgem códigos múltiplos, falhas cruzadas e sintomas que parecem não ter ligação direta.
É exatamente nesse ponto que muitos reparadores:
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Condenam módulos sem prova
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Trocam peças boas
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Perdem tempo e dinheiro
É nesse momento que o método faz a diferença
O primeiro passo não é o scanner.
É o multímetro.
A medição da resistência entre os pinos 6 e 14 do conector OBD é fundamental.
Valor esperado: aproximadamente 60 ohms
Esse valor indica que:
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A rede está fechada
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Os resistores de terminação estão presentes
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A integridade física da rede existe
Se o valor está correto, o foco muda imediatamente para:
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Chicote
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Conectores
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Resistores de terminação
Sem adivinhação.
Ignorar essa etapa custa tempo e dinheiro
Após a verificação física, entra a análise com a rede acordada.
Muitos veículos:
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Só ativam a comunicação quando o scanner entra
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Mudam completamente os níveis de tensão quando a rede desperta
Por isso, medir com a rede “dormindo” pode levar a conclusões erradas.
Não basta ver sinal, ele precisa fazer sentido
Outro erro comum é ignorar a topologia da rede CAN.
Sem saber:
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Onde a rede começa
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Onde termina
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Quais módulos possuem resistores de terminação
A medição pode estar sendo feita no ponto errado — e a conclusão também.
Rede CAN não se diagnostica por tentativa.
Se diagnostica por método.
Evolução do sistema: Novo Onix
Em veículos mais novos, como o Novo Onix, a arquitetura ficou ainda mais complexa.
Alguns sistemas:
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Separaram a rede de diagnóstico das demais redes do veículo
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Limitam o acesso via OBD
Nesses casos:
A resistência entre os pinos 6 e 14 passa a ser 120 ohms
Sem o esquema elétrico correto, o reparador pode interpretar isso como falha — quando na verdade é projeto.
O salto final: testar a resposta do módulo
Depois da parte física e elétrica, vem o teste mais inteligente. Funções especiais do scanner, como a “PINK NETWORK”, permitem:
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Ver quais módulos respondem
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Identificar quem está fora da rede
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Confirmar falha sem adivinhação
É o diagnóstico falando mais alto que o palpite.
Conclusão
A rede CAN não é um problema. O problema é diagnosticá-la sem método.
Quem domina:
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Medição correta
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Topologia da rede
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Interpretação de sinais
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Funções avançadas do scanner
Para de trocar peças no escuro e começa a resolver falhas com confiança.
Na oficina moderna, método não é diferencial. É sobrevivência.
Bons estudos.




