Euro 6 no Brasil. Veja os desafios

Atualizado em 24 de abril de 2021

O programa de controle de emissões de poluentes no Brasil é chamado Proconve, equivalente a norma Euro, e está estacionado desde 2012 com o Proconve P7 (Euro V). Porém após sete anos de hiato legislativo, o Conama (Conselho nacional do meio ambiente) aprovou as novas regras da regulamentação Proconve P8, que irá abranger não só veículos pesados a Diesel, mas também veículos comerciais, sob parâmetro de emissões de poluentes e ruídos a partir de 2023.

No entanto, a sua adaptação não será fácil para os fabricantes, visto que o novo programa exige adaptações complexas nas tecnologias já existentes na Europa, pois a realidade brasileira é muito diferente, quando falamos de combustível e das condições adversas das estradas.

Em 2007, quando foi lançado o programa Proconve P6/Euro IV, houveram complicações por falta de especificações técnicas do diesel nacional, e o programa foi cancelado. Por fim, o primeiro passo só foi dado em 2012, com o Proconve P7/Euro V. Para evitar os mesmos problemas, na norma Proconve P8/Euro VI a resolução da Conama estabelece que sejam adotadas as mesmas especificações do Diesel que foram usadas na norma passada (P7) ou com normas novas a serem estabelecidas pela ANP (Agência nacional do petróleo, gás natural e biocombustíveis).

É importante entender as fases anteriores e rotas tecnológicas possíveis para a implantação da nova norma. O gráfico abaixo revela os caminhos de emissões relativas de Óxidos de Nitrogênio e Material particulado, que mostram que os poluentes locais requerem mais tecnologia para controle. Os hidrocarbonetos e monóxido de carbono são controlados pelo catalisador de oxidação.

Fonte: https://aea.org.br/home/wp-content/uploads/2017/06/EuroVIAn%C3%A1lise.pdf

Nota-se pelo gráfico acima que no sistema P8/Euro VI há a redução de 85% a 95% das emissões de Óxido de Nitrogênio (NOx) tratadas pelo sistema de SCR.

Acima se pode ver um exemplo de sistema Euro VI, que terá também a missão de reduzir em 50% a emissão de material particulado através de um filtro, assim como a redução de 71% dos Hidrocarbonetos através da tecnologia de catalisação de oxidação do Diesel (DOC).

O controle de emissões é extremamente complexo, com a fusão de tecnologias de recirculação dos gases de escape (EGR) e do sistema SCR juntamente com o sistema de catalisadores para gerenciamento térmico no ciclo frio do Diesel. A principal mudança do sistema exigirá alto grau de calibração dos equipamentos e sensores.

Um dos desafios da nova norma é que os limites estabelecidos devem apresentar níveis similares de emissões por um longo período de tempo e de uso, e serão testados por amostragem durante sua vida útil em laboratórios do Ibama. Para fins de entendimento, a amostragem será da seguinte forma:

  • Veículos com até 5 toneladas (bruto): Emitir o mesmo nível de poluentes por 160.000 Km ou 5 anos;
  • Caminhões de 3,8 a 16 toneladas e ônibus acima de 5 toneladas: Emitir o mesmo nível de poluentes por 300.000 km ou 6 anos;
  • Caminhões acima de 16 toneladas e ônibus acima de 7,5 toneladas: Emitir o mesmo nível de poluentes por 700.000 km ou 7 anos.

Para que não ocorram problemas é importante regulamentar e estabelecer as novas normas o quanto antes para que as montadoras e a indústria tenham tempo hábil para adaptação, dada a complexidade do projeto.

“O Euro 6 no Brasil vai exigir testes mais complexos [do que foram com o Euro 5], em condições reais de rodagem com equipamentos conectados on-line”, pondera Gustavo Castagna, gerente de centros técnicos da Bosch dedicados a ensaios de motores.

“O desafio para o Euro 6 aqui é grande, não basta só trazer a solução pronta na Europa, porque ela não serve para o Brasil, o combustível é diferente e sua qualidade é variável no País, já aprendemos isso com o Euro 5”, avalia o engenheiro Luiz Noronha.

Quando falamos de emissões atmosféricas, falamos também de saúde pública. Os poluentes emitidos por veículos automotores geram gastos públicos com saúde. O Proconve P8 será adotado para incentivar investimentos em melhorias de infraestrutura e de renovação dos veículos que rodam pelo país. Isso terá impacto direto na qualidade do ar respirado.

Os desafios com a qualidade do Diesel e combustíveis são ainda maiores. Os motores com tecnologia de redução de emissões para as novas normas só funcionam com Diesel S10, que tem baixo teor de enxofre (10 partes de enxofre por milhão), porém apenas 60% dos postos de combustíveis em território nacional possuem bombas de S10. Há ainda estudos com biodiesel sendo feitos, porém demonstraram aceleração no envelhecimento e redução da vida útil dos catalisadores e o filtro de particulados utilizados para o sistema Euro VI.

“Testes demonstraram que a maior concentração de biodiesel acelera o envelhecimento e reduz a vida útil dos catalisadores e filtro de particulados do sistema Euro 6”. Eduardo Nogueira Dias, engenheiro de aplicação de catalisadores automotivos da Basf.

Os fabricantes, segundo o Conama, deverão revalidar as medições dos motores constantemente para se enquadrar na legislação, cedendo 0,3% da sua produção semestral ou no mínimo 3 unidades por semestre para avaliação das emissões de poluentes.

Outra exigência da norma P8/Euro VI são os níveis máximos de ruídos emitidos por veículos comerciais. Os limites cada vez mais exigentes vão entrar em vigor gradativamente em três fases. A primeira fase se inicia em 2022/2023, a segunda em 2027 que abrange novos projetos e 2028 para todos os veículos. A última fase do P8 será admitida somente em 2033.

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