Se um carro chegar na sua oficina com a luz do airbag acesa, você saberia o que fazer? Neste curso de airbag, entenda como funciona o sistema e como repará-lo.
Carros fabricados no Brasil, a partir de 2014, são obrigados a ter airbag e freio ABS, a fim de atenuar a gravidade dos acidentes de trânsito.
Esse é um ponto importante, inclusive, para conscientizar o proprietário do carro: é altamente recomendado fazer a manutenção periódica e comprar peças de qualidade.
Economizar no sistema de segurança veicular pode custar a vida do próprio condutor ou da sua família. Se os seus clientes estiverem cientes disso, sempre farão conserto de airbag quando for necessário.
Como funciona o sistema de airbag?
O sistema de airbag é projetado para ajudar a manter a integridade física das pessoas, em caso de acidente.
Além disso, os carros fabricados hoje em dia são planejados para que as peças sejam danificadas ao máximo possível, sem ferir os integrantes do veículo. É um conjunto de fatores que protege o motorista e os passageiros.
A seguir, assista ao teste de colisão a 60 KM/h entre um Chevrolet Bel Air 1959 e um Chevrolet Malibu 2009, realizado pela Insurance Institute for Highway Safety (IIHS).
Observe que o condutor do Bel Air sofreria diversas lesões graves, enquanto o do Malibu sairia com poucos ferimentos.
Isso porque o Airbag reduz em até 30% o risco de morte do condutor. O sistema é composto por duas bolsas frontais, atuando como principal componente.
Os demais airbags e a destruição estruturada das peças, principalmente o painel, complementam o sistema de segurança veicular.
Tipos de Airbag
Na imagem a seguir, temos o exemplo de um carro com dez airbags. São eles:
- Dois airbags frontais
- Dois airbags de joelhos
- Quatro airbags laterais
- Dois airbags de cortina
Em caso de colisão, serão acionados apenas os airbags específicos de cada área, pois eles são controlados eletronicamente.
Cabe ressaltar que essa quantidade de airbags, normalmente, é encontrada apenas em carros mais sofisticados.
Localização dos componentes
Apesar das bolsas de airbag estarem localizadas no mesmo lugar, os componentes que os disparam vão mudar de posição de acordo com cada modelo de veículo.
Os reparadores precisam saber onde está o módulo, o sensor de impacto e todos os demais componentes do sistema.
Um detalhe interessante para ficar atento é que ao mexer em uma coluna ou no alinhamento da direção, por exemplo, você pode estar mexendo em algum sensor de airbag e danificá-lo.
Ao disparar o airbag, você pode trazer um problema muito maior para o trabalho.
Dessa maneira, é importante saber onde cada peça do sistema está instalada. Por isso, é necessário consultar a literatura técnica e levar em conta a variedade de veículos, e que cada um tem o disparador em um local diferente, não há como decorar tudo.
É comum a maioria dos reparadores deixarem de fazer consertos por causa dos airbags. Caso não busquem conhecimento sobre o assunto, poderão ter sérios problemas em pouco tempo.
Na imagem a seguir, encontrada no Manual Locar, temos o exemplo da localização dos componentes de uma central de controle do airbag da Fiat Toro.
Ferramentas básicas para o reparador
Alex Tadeu explica que com a tecnologia atual dos carros, além do osciloscópio, existem outras três ferramentas automotivas especiais para os reparadores realizarem diagnósticos e cada uma delas possui um modelo e marca específica. São elas:
- Scanner
- Literatura técnica
- Multímetro
Um bom scanner não precisa ser o mais caro, basta escolher aquele que dê o maior número de informações possíveis para o seu segmento de atuação.
No artigo Melhores marcas de scanner automotivo, listamos os melhores fornecedores segundo a percepção do mestre Laerte Rabelo.
Quanto ao multímetro, devemos evitar adquirir os muito baratos. Nesse caso, o custo-benefício não compensa, e a possibilidade de reportar uma informação errada é grande.
E, se tratando de airbag, a literatura técnica é também uma ferramenta. Os manuais Simplo são os mais completos da América Latina, o que garante grande abrangência em modelos de veículos.
Manual mix
Na imagem a seguir, temos o exemplo de uma BMW e seus componentes. Rabelo ressalta que é um erro acreditar que não iremos receber carros dessa categoria na oficina. Caso o reparador não esteja preparado para consertar esse tipo de carro, o concorrente vai estar.
Como podemos observar na imagem, trata-se de um sistema complexo. No Manual Mix, do Simplo, encontramos os mais diversos sistemas de airbag explicados de uma maneira simples. Ele é desenvolvido com o objetivo de auxiliar o reparador a trabalhar com quatro importantes sistemas do veículo:
- Sistema de Air Bag
- Sistema de Imobilizador
- Sistema de Alarme automotivo
- Sistema de Resets
Com esse conjunto de informações técnicas, o reparador estará apto a montar e desmontar componentes durante o reparo do airbag; além de regular e manusear sistemas de alarme, de acordo com a montadora utilizada.
Componentes do Sistema de airbag
A partir de agora, vamos acompanhar os mestres automotivos Laerte Rabelo e Alex Tadeu nesse curso de manutenção de airbag. Veja os principais componentes do sistema e como repará-los.
Módulo de airbag
Seguindo o padrão internacional, o conector da unidade de comando é amarelo, e indica que este é um gerenciamento dos detonadores dos airbags nos veículos.
A unidade de comando do airbag possui apenas uma posição específica, independente do modelo do carro, sempre em direção à frente do veículo.
Quando uma unidade de comando tiver toda a carcaça ou a parte inferior em alumínio, o negativo desta peça é a própria carcaça.
Dentro da carcaça existem capacitores de energia; em caso de uma colisão que corte os fios, a carga reservada terá potência suficiente para disparar as bolsas de airbags.
Devido a isso, devemos ter um cuidado em especial quando formos realizar os reparos: mesmo que a energia do carro esteja totalmente desligada, ainda existe o risco de detonar a bolsa por causa da energia acumulada no capacitor da unidade de comando.
Após desligar o carro, a energia vai caindo gradativamente, mas não há um tempo certo, então devemos esperar pelo menos uma hora até iniciar os reparos.
Dependo do veículo, o sistema não funciona com o carro parado, então, nem sempre será necessário desligar a bateria e aguardar esse período.
Veja abaixo os mestres automotivos explicando como reparar o módulo do airbag:
Air bag de cortina
O airbag de cortina é a bolsa inflável responsável por proteger o motorista e os passageiros contra estilhaços de vidro e pancadas na cabeça.
O fato mais interessante aqui é que a maior parte dos conectores se encontram na traseira do veículo. Trata-se de uma estratégia para evitar que fragmentos da peça machuque alguém durante uma batida.
Entretanto, essa peça pode ser removida durante a blindagem de um veículo, e os sensores manipulados para que a luz indicativa no painel não acenda.
Air bag no banco
O airbag no banco protege os passageiros e o motorista contra lesões na lateral do corpo, principalmente o braço.
A posição de conexão deste dispositivo de airbag no banco tem dois lugares: uma embaixo do banco e outra dentro. Quanto ao dispositivo dentro do banco, a posição exata pode mudar dependendo do modelo do carro.
Outro cuidado que o reparador deve ter ao realizar qualquer reparo no banco é com a linha que ele vai usar para costurar a poltrona após o conserto.
Precisa ser uma linha especial para que ela se rompa em uma colisão. Caso ela não se rompa, a bolsa vai inflar dentro do banco jogando a pessoa contra o teto do veículo.
Bolsa com dois conectores
Os airbags mais simples possuem um conector. Porém, diversos veículos estão sendo fabricados com dois. Desse modo, um detonador é mais potente que o outro.
Em caso de colisão em menor velocidade, apenas o detonador mais fraco vai ser acionado, o que vai evitar ferimentos pela ação do airbag.
No scanner, a leitura é diagnosticada como disparo estágio um para o dispositivo mais fraco, e disparo estágio dois para o conector deflagrar a bolsa mais forte em acidentes de maior impacto.
O detonador duplo é fabricado apenas para airbags frontais.
Cinta do Airbag
Ao mesmo tempo em que a cinta do airbag passa a informação da resistência da bolsa do motorista para o módulo, ela passa outras informações como buzina, piloto automático e botões do volante. Desse modo, essa peça pode ser chamada também de cinta do volante.
Importante: quando a cinta do airbag estiver muito ressecada ou quebrada, ela deve ser trocada e não consertada.
Quando restaurada, a colagem é feita por meio de um flat cable (cabo de fita), que é composta por metal. Essa colagem precisa ser efetuada quente, com um cabo de solda.
Ao entrar em contato com a peça, o plástico irá derreter, provocando o enfraquecimento, que em breve irá danificar novamente.
Mas o pior não é isso: existem carros que possuem os dois fios do airbag e o fio da buzina passando pela cinta. Ao realizar o reparo nesses modelos de cinta, os fios podem se encostar provocando um acidente e a deflagração do airbag.
A cinta do airbag deve ser sempre trocada, mas cuidado com o fornecedor – existem peças muito fracas que irão quebrar em pouco tempo. E o reparador é obrigado a dar garantia, caso ele mesmo tenha fornecido a peça para o cliente.
Indicador do cinto de segurança
Em carros mais modernos, é por meio do módulo do airbag que o sistema de segurança indica se o motorista não afivelou o cinto de segurança, mantendo a luz acesa e o alarme acionado.
Nesses casos, o sistema do cinto de segurança de alguns veículos trabalha em conjunto com o airbag frontal. Em uma colisão, o cinto mantém o motorista o máximo possível contra o banco para não ser ferido pela bolsa do airbag.
Após a deflagração, o cinto afrouxa. Desse modo, o cinto de segurança é controlado pelo módulo do airbag.
Para quebrar um mito: em uma colisão, o airbag não depende do cinto de segurança para funcionar. Mesmo que o motorista esteja sem o cinto, o airbag será acionado.
A bolsa do airbags será inflada toda vez que houver colisão frontal com desaceleração e gravidade acima de 2 g.
Luz do airbag acesa
Ao darmos partida no carro, enquanto o sistema faz uma varredura no módulo para averiguar se está tudo correto, a luz do airbag deve acender. Se estiver tudo certo a luz apaga. Acontecendo isso, o airbag está funcionando corretamente.
Entretanto, existem três maneiras de ludibriar a luz do airbag: fita isolante, massa de calafetar ou acoplar o fio em outro, como na luz do alternador, por exemplo. Desse modo, as duas luzes se apagam, levando a crer que está tudo correto.
Percebendo isso, as montadoras começaram a colocar um aviso de texto no painel para alertar sobre um defeito no airbag. Com a nova informação, não é possível apagar o texto, mesmo que a luz do painel seja apagada.
Airbag do passageiro
Quando ocorre uma colisão, o airbag do passageiro não precisa ser deflagrado, caso não tenha ninguém sentado. Quando isso ocorre, gera manutenção sem necessidade.
Além disso, outro problema apareceu: na Europa é permitido que crianças sentem no banco da frente, desde que estejam no bebê-conforto. Quando o airbag era acionado com uma criança no banco da frente, a própria bolsa do airbag acabava matando a criança, em virtude da força da deflagração.
Por esses motivos, as montadoras começaram criar recursos para que o airbag do passageiro fosse acionado somente quando necessário.
Foram criadas três técnicas:
Chave
Por meio de uma chave o airbag do passageiro só deflagraria quando o sistema fosse ligado manualmente. Entretanto, essa técnica não deu certo, pois o motorista esquecia de desligar o airbag, o que acabava vitimando a criança.
Sensores
Por meio dos sensores, o airbag só será deflagrado quando cumprir alguns requisitos mínimos de peso e velocidade, assim, irá evitar que a bolsa do airbag vitimize crianças.
Porém, o sensor acaba estragando com o tempo, principalmente por causa da movimentação de regulagem do banco. Ocorrendo isso, a luz do painel é acionada por identificar uma anomalia no sistema e todos os airbags ficam indisponíveis até o conserto.
Nesse caso, cada reparadora tem um sistema de tecnologia nos sensores do airbag do passageiro. Inclusive, pode mudar até de um ano para outro no mesmo modelo de carro, é o caso do Ford Fusion, por exemplo. Para realizar esse tipo de conserto é imprescindível contar com um osciloscópio e com a literatura técnica.
Computador de bordo
Esta é a maneira mais fácil. Pelo computador de bordo é possível configurar para desativar ou ativar o airbag do passageiro.
Sensor de Colisão
O sensor de colisão identifica quando ocorre uma desaceleração brusca do veículo. Em milésimos de segundos envia um sinal digital para unidade de comando, confirmando o impacto e imediatamente é acionada a deflagração das bolsas do airbag.
O sensor de colisão tem uma posição correta: é fixado em um suporte específico onde ele foi desenvolvido. Possui um único parafuso, normalmente M6 e um pino de encaixe que fica em uma posição exata.
Caso contrário, o airbag pode não funcionar quando necessário. Oliveira encontrou diversas gambiarras no sensor de colisão, inclusive presa com fita ou enforca-gato.
É necessário tomar cuidado nos reparos para não bater no sensor e acionar o airbag. Recomenda-se desligar a bateria e esperar uma hora para que descarregue a energia da unidade de comando e depois mexer no sensor de colisão.
Cabe ressaltar ainda, que após um acidente, se o sensor de colisão não for danificado não precisa ser trocado.
Atenção: nunca faça isso!
Esse componente possui tiras de cores diferentes. No final do chicote há um resistor, nesse caso, ele está sendo utilizado para simular a bolsa do airbag.
O resistor tem o mesmo valor de resistência elétrica da bolsa e acaba enganando a central de comando do airbag. Assim sendo, o sistema entende que há uma bolsa, quando na verdade não há.
Logo, a luz do painel não vai indicar uma anomalia no sistema, e em caso de colisão pode custar a morte do motorista ou do passageiro.
Diversos carros pelo Brasil estão circulando com anomalias no sistema de airbag; e em boa parte dos casos, os proprietários nem sabem do risco que estão correndo.
Oliveira classifica essa ação como um crime: tentativa de homicídio. Além da total irresponsabilidade do reparador que pode custar vidas. Além disso, o motorista pode processar o reparador.
Se o carro passar por uma revisão completa e o reparador não perceber uma anomalia grotesca como essa, ele pode responder por responsabilidade civil, mesmo sem ter sido autor do serviço enganoso.
Dica para remover a estática
Nosso corpo possui energia estática, a prova disso é que às vezes tomamos choque ao encostar em alguma coisa, inclusive no carro. Esta estática pode acionar o airbag em determinados consertos.
Oliveira conta que já deflagrou a bolsa de um Vectra GTS ao retirá-la para alinhar o volante. Isso ocorreu por ele não ter descarregado a estática do próprio corpo que entrou em curto no momento que ele tocou na bolsa.
Para descarregar a estática do corpo, basta tocar em uma peça metálica do veículo e pisar descalço no chão.
Exemplo de esquema elétrico: Onix 1.0 turbo 2020
Na imagem abaixo, podemos observar uma parte da literatura técnica do Onix 1.0 turbo 2020. O esquema demonstra exatamente onde as peças se encontram para realizar um reparo preciso.
Dicas finais do curso de airbag
Confira as três dicas finais dos mestres automotivos:
Não compre peças usadas para o sistema de segurança
Peças de segurança para veículos só podem ser comercializadas novas, ou seja, por lei, peças usadas não podem ser vendidas, logo não tem como emitir nota fiscal.
Isso serve para desde todo o sistema do airbags, até mesmo uma mola, por exemplo. Então, não repasse para seus clientes peças usadas do sistema de segurança veicular.
Prazo de validade do airbag
A bolsa do airbag tem um prazo de validade de até 10 anos. Com o passar do tempo ela resseca e no momento de inflar se rompe. O ar dentro da bolsa é quente e pode gerar queimaduras de até 2º grau.
Fique atento!
Ao realizar a manutenção no sistema de airbag, aguarde aproximadamente dois minutos para que o sistema entre em hibernação. Isso evita o acionamento involuntário das bolsas do airbag.
Estudo de caso: defeito comum na linha Fiat
Problema: o veículo apresenta luz de airbag acesa no painel mesmo após o motor entrar em funcionamento. Isso indica que há algum problema. Além disso, o scanner não se comunica com o sistema de airbag.
Quais possíveis falhas podem ocasionar a perda de comunicação entre os sistemas de airbag e o scanner?
Observe abaixo o vídeo explicativo do estudo de caso orientado pelos mestres automotivos Ribeiro e Oliveira.
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